20111120

Pensamentos Críticos - "O estagiário"



Falar do estágio é uma miragem. Sou finalista mas parece que ainda falta muito tempo... Mas não, como a minha mãe diz, "ao virar da esquina é o Natal..." e se continuar a andar pela rua fora e virar na próxima, dou de caras com a Páscoa e, da Páscoa a Junho é um "tirinho" como se costuma dizer. Por isso, acho que está na altura de pensar... pensar que passado 5/6 anos a estudar como um preto e a aturar a falta de imparcialidade dos professores ainda vou ter mais um ano que vou ser o escravo do gabinete. Que vou fazer o "trabalho sujo", tirar cafézinhos, tirar fotocópias, fazer pormenores construtivos, dobrar as folhas que vão saindo da plotter... Enfim, como a vida é dura para os estagiários! Paralelamente a toda esta situação, já me tinha esquecido de associar mais dois pensamentos: o 1º é que todo este período tem uma duração de 9/12 meses e o 2º é que são de "graça" como se diz no norte!
Quanto a remuneração o assunto é outro... é uma questão vital para os estagiários e de certa maneira também para os próprios arquitectos. Por isso, deixo-vos aqui um excerto de um post que o Arq. Pedro Homen Gouveia escreveu, em 2007, num blog chamado a-cidade-das-pessoas.blogspot.com com o titulo: Ideias pela Ordem.


"Sou a favor da obrigatoriedade de estágio profissional. Acho que é possível melhorar os moldes em que esse sistema hoje funciona – a bem da eficácia do estágio – mas considero que a primeira mudança a operar neste domínio tem de ser a remuneração dos estagiários. Por duas razões.
Primeiro, porque o estágio não deve ser um “serviço militar obrigatório”, que castiga com um ano de serviço gratuito os novos recrutas. É perverso obrigar (porque ele é de facto obrigatório, não esqueçamos!) as pessoas a um ano de trabalho gratuito.
Segundo, porque inundar um mercado com trabalho de mão-de-obra gratuita é desregulá-lo. E essa desregulação prejudica todos: estagiários, arquitectos sem vínculo (nomeadamente os que estão em início de carreira, que ficam com poucas ou nenhumas hipóteses de continuar) e todos os restantes, também, que passam a trabalhar num mercado ainda mais desregulado ao nível dos honorários.
A Ordem não pode, ao mesmo tempo, gerar mão-de-obra gratuita e querer qualificar a Arquitectura. Esta é uma contradição fundamental – e não é o mercado que a pode resolver. Haverá soluções exequíveis e razoáveis? Haverá, certamente – mas só as conseguiremos encontrar depois de assumir que isto é um problema que temos de resolver."

2 comentários :

  1. Olá,
    vim parar ao teu blog muito por acaso e ao ler este post senti-me bastante familiarizada com este assunto. Sou estudante de Arquitectura Paisagista e estive até há bem pouco tempo à procura de estágio para assim poder fazer o grande e temido trabalho final.
    Em primeiro lugar concordo e sublinho as tuas palavras em relação aos estudos e ao ensino universitário em Portugal. Estou neste momento em Erasmus na Suécia, e o método de ensino é bastante diferente. Não precisas de directas e do trabalho maluco que nos exigem aí, em que muitas dessas vezes sentia-me uma autentica máquina onde a vida social era posta literalmente de lado, e isso, não é vida, nem é assim que construímos um raciocínio lógico sobre o que seja.
    Quanto às palavras do Arquitecto Pedro Gouveia, penso que tem toda a razão naquilo que diz, mas atenção, se formos exigir remuneração pelo estágio que somos obrigados a fazer, ninguém nos quer. Uma das primeiras perguntas que me faziam quando obtinha alguma resposta era: "Então e seguro, a Universidade cobre? Então e, pagamentos, é necessário?" Como tal, se fosse a dizer "sim é preciso", provavelmente ainda hoje andava aos emails e telefonemas.
    Para que as palavras do Arq Pedro Gouveia façam sentido e que sejam uma realidade, muita coisa teria que mudar na sociedade, e uma delas, é o que diz a musica da Deolinda "para ser escravo, é preciso estudar" e é este o rumo que a sociedade está a tomar, muito por culpa do sistema politico. Porque se nós dizermos "não, não quero essas condições", o que vem atrás agarra. E é isso que não deve acontecer. Para que algo seja feito o sistema que tem que mudar, tem que valorizar quem andou a matar-se para ter um canudo na mão. E vontade para isso, há?

    Boas escritas e boa sorte para o estágio.

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